sábado, 24 de dezembro de 2011

Carta de Miguel Nicolás ao CSAMT

Companheiras e companheiros,

Antes de começar, quero transmitir o meu mais sincero apoio, respeito e solidariedade com as últimas pessoas detidas, acusadas de quebrantar a mal chamada paz social com a que o Estado Espanhol reprime e atenta reiteradamente contra a nossa Galiza; espoliando-a, aculturizando-a, negando-lhe o direito a exercer a sua própria soberania, enquanto somos dessangrad@s no desemprego, na precariedade e na miséria como classe e povo trabalhador.

Quero expressar, tanto a elas como a todas e todos as obreir@s e patriotas galeg@s, que passárom ou se encontram neste lado dos muros, a minha profunda admiraçom, respeito e agradecimento, tanto pola sua entrega, como polo orgulho e a dignidade com que nos representam como naçom e classe trabalhadora.
Todas e todos som @s "bons e generosos" do hino da nossa pátria, o brilhar da nossa estrela, os resplendores que nas madrugadas nom deixam que o sonho de umha Galiza ceive e socialista esmoreça, fazendo do "denantes mortos que escravos" de Castelao umha atitude própria da nossa idiossincrasia, em lugar de umha mera palavra de ordem.

A todas e todos el@s, devemos honrar e arroupar com toda a força do nosso apoio, apreço, respeito e solidariedade, ante estas duras e injustas circunstáncias que padecêrom ou que atravessam, por terem luitado digna e conseqüentemente, na defesa de todas as galegas e galegos, na procura de umha Galiza ceive, antipatriarcal e socialista que nos faga livres como classe e como naçom.

Depende da mocidade, dos desempregados e desempregadas, das precárias e precários, de todas e todos nós, assim como das vítimas de toda a injustiça social e de género, que o seu exemplo, longe de ser sufocado ou reduzido a factos isolados, radicais ou minoritários, logre expandir-se e reavivar-se na identidade de umha Galiza alçada, mais desperta, mais unida, mais organizada e combativa, decidida a dar queda a este sistema de miséria e de escravidom. Tomemos as rédeas do nosso futuro fora de umha Espanha que só nos degrada e denega sermos quem somos.

A luita é o único caminho, assim como resistir e vencer, única atitude capaz de levar-nos até a vitória.
Quero agradecer todo o apoio e solidariedade das organizaçons e coletivos, assim como de cada pessoa que, independentemente das siglas, levais apoiando-nos e arroupando-nos, com todo o agarimo, ánimo e alento, do qual se leva nutrindo a fortaleza com a qual, nos dias de hoje, Telmo mais eu continuamos em pé, emocionados, agradecidos e orgulhosos da classe e naçom à qual pertencemos, e polas quais tanto dentro como fora destes muros, o nosso punho continua e continuará em alto. Muito obrigado a todos e todas.

Aproveito também para agradecer especialmente à CUT, porque apesar de nom ter nada a ver com as acusaçons mediante as quais este autoritário Estado democrático burguês nos mantém seqüestrados, a Telmo e a mim, mostrárom um companheirismo e solidariedade exemplar; sem medo às represálias e conseqüências que isso podia implicar, fazendo da praxe desta central sindical um sinónimo de coerência, enquanto à CIG nom lhe faltou tempo para nos condenar.

À sua vez, expressar a grande deceçom que depois supujo ver como essa praxe inicial foi derivando num rumo descaradamente hipócrita no qual, se a CUT realizasse um objetivo e sincero exercício de autocrítica tanto por parte da sua direçom, como da Executiva Nacional, deveriam sentir vergonha.

Após a ineficácia e incompetência mostrada pola defesa laboralista oferecida pola CUT, que só contribuiu para um progressivo agravamento da nossa situaçom, sendo a passividade, ou mesmo a indiferença, a resposta oferecida polos advogados deste sindicato tam coerente e combativo, ante a vulneraçom reiterada dos nossos direitos mais básicos, como o direito a nos comunicar com as nossas amizades.

Fartos de padecer esta inoperáncia, e plenamente conscientes do que supom encontrarmo-nos na cadeia, quer dizer, entre muros e nom sob um ERE nem um despedimento improcedente, eu e mais Telmo decidimos mudar para umha defesa penalista, que no mínimo sim leva demonstrado um profissionalismo e seriedade das quais a anterior carecia.

Esta decisom supujo umha acusaçom de indisciplina e deslealdade por parte da nossa central sindical, embora nas suas recentes publicaçons mostrem um número de conta, junto aos endereços das nossas respetivas prisons.

Após umha queda do companheirismo e solidariedade dirigido à sua filiaçom e militáncia, há que dizer que desde a mudança da nossa defesa no mês de junho, nom temos recebido, no mínimo eu, nem um cêntimo dessa conta nem umhas linhas ou qualquer indício de preocupaçom pola nossa situaçom por parte da direçom nacional da CUT.

Tam só a resoluçom posteriormente ampliada, da Executiva Nacional, facilitada polos camaradas que nunca deixárom de se preocupar e mobilizar, à margem da Central. Nessa resoluçom assentam as bases com as quais justificar a nossa purga, no caso de sermos condenados polo mesmo Estado e sistema que a própria Central di combater.

No dia de hoje há um ano que fum detido, acusado de incendiar um INEM, no qual, polos vistos apenas se queimárom um computador, umha mesa, e com um pouco de sorte algumha cadeira, numha época em que as cifras do desemprego atingiam o recorde de famílias obreiras afogando na pobreza na nossa Galiza.

No entanto, o Estado espanhol, nom conforme com isso, semanas antes da minha detençom, assim como três meses antes da de Telmo, ameaça com cortar ou mesmo arrebatar as migalhas dos 420€ com que grande parte da nossa classe obreira tentava subsistir, após levar um ano ou mais privada do direito ao trabalho.

Esse mesmo Estado atreve-se ainda a chamar-nos terroristas, continua a manter-nos presos e sem julgamento, privados tanto de liberdade como de presunçom de inocência, enquanto com a aplicaçom de um ilegítimo regime FIES, atenta contra a nossa intimidade e contra os nossos familiares e pessoas mais queridas, intervindo as comunicaçons e aplicando a dispersom para tentar desmoralizar a nossa gente, já que connosco nom pode, nem poderá.

Um ano depois, obreiros e obreiras seguem abarrotando as oficinas do INEM, e as filas dos comedores de beneficência; as reformas, a privatizaçom, todo quanto vai acontecendo, está pedindo a berros a resposta de todos e todas nós, como classe e naçom oprimidas.

A necessidade de defendermos tem mudado, a realidade obriga-nos a atacar com unidade, organizaçom e contundência.

Desde este lado dos muros que junto a Telmo e a mim, tantos presos e presas encontramos ou passárom, acusad@s de luitar por mudar este estado de cousas tam agónico e degradante, dizemos que a cadeia nom deve amedrontar-nos. Mais tenebroso se avizinha o futuro se nom luitarmos, nós, continuamos em pé, mais fortes, mais formados, reconfortados, aliviados e agradecidos por toda a solidariedade com a qual nos agarimais de fora, com o vosso apoio e companheirismo.

Somente quero pedir, mais umha vez, que a maior repressom maior resposta, que a luita continue, que enquanto a luz nos siga sendo negada, que o fumo siga a abrir o céu.

Obrigado a todos e a todas. Resistir e vencer.

15 de dezembro em 2011
Módulo de Isolamento
Centro Penitenciário de Villabona (Astúrias)

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