quinta-feira, 28 de julho de 2011

Revista Voz Própria nº 24 entrevista Telmo Varela

Em dezembro de 2010 foi detido Miguel Aparício, filiado da CUT, e 9 de março deste ano, na operaçom “Codeso” da Guarda Civil. Tu és também detido junto com outra pessoa. Quais som os motivos das vossas detençons e da entrada em prisom?
Bom, na Galiza há mais de 250 mil desempregadas e desempregados; duas mil famílias perdem a sua vivenda por ano, por nom poderem fazer frente às cargas hipotecárias; a juventude é a mais castigada polo desemprego, o seu futuro é incerto; as mulheres tenhem experimentado um retrocesso no seus direitos... O governo, para sair da crise, está a aplicar reformas laborais e económicas sobre reformas, o que vem ser o mesmo: apertar-nos o cinto mais e mais para que sejamos as trabalhadoras e os trabalhadores que realmente paguemos a sua crise. Sabem que o vamos passar muito mal, mas também sabem que se nos organizarmos e luitarmos, nom lhes vai ser tam fácil descarregar a crise sobre as nossas costas. Em definitivo, nom podem permitir luitas como a greve do metal ou como a da Greve Geral de 29 de setembro. Sempre que a classe obreira se dispom a organizar-se, em autênticas organizaçons de classe, é brutalmente reprimida e atacada, sem piedade, pola grande burguesia. Historicamente sempre tem sido assim e, até onde eu sei, a burguesia nom mudou. Está decidida a fazer o que for preciso para se perpetuar no poder e assegurar os seus privilégios e prebendas de por vida.

Claro, nom podem prender-nos por sermos militantes sindicais, daí que nos queiram criminalizar em atos de sabotagem. Com essa acusaçom, mandárom-nos para a cadeia, sem provas de nengum tipo, só por indícios e supeitas da Guarda Civil.


Os meios de comunicaçom da burguesia, desde as primeiras horas, já te condenárom numha infame campanha de intoxicaçom e criminalizaçom, dando a conhecer a tua trajetória e anterior estadia em prisom. Quantos anos estiveste encarcerado e quais fôrom os motivos?
Com a minha detençom corrêrom rios de tinta. A minha anterior militáncia nos GRAPO véu-lhes como umha luva para montaren todo o conto e apresentar-nos como obreiros mui perigosos aos quais há que manter fechados sob sete chaves.

Os mass-media jogárom um papel determinante nesta guerra de prevençom. Porque lhe dérom tanto bombo? Simplesmente para incidir na opiniom pública e justificar o meu encadeamento. É significativo o facto de remontarem ao ano 1980 para justificar a operaçom contra o movimento obreiro de agora.
Porém, Miguel Nicolás nom tem antecedentes e, em troca, também está preso, melhor dito, seqüestrado. Nom nos deixemos enganar, foi detido e mantenhem-no preso por ser um moço com iniciativa, pola sua generosidade, solidariedade e porque nom comungava com rodas de moinho. Porque outros “quatro” sindicalistas por um delito muito mais grave do que acusam a Miguel, no qual houvo feridos e correu o sangue, nom tivérom que pisar a cadeia?. Que justiça é esta! Quantos pesos e quantas medidas tem? Cevam-se com eles porque representa essa juventude com inquietudes e com esse espírito de luita tam necessário hoje em dia.

Passei mais de 21 anos nas prisons do Estado espanhol, sempre longe da minha terra e dos meus. Nesses anos percorrim as piores cárceres, -inclusive estivem um ano na prisom de Ceuta. Para manter alguns dos meus direitos e a minha dignidade como pessoa vim-me obrigado a realizar numerosas greves de fame, algumhas delas de mais de 40 dias.


Numha das cartas enviadas à opiniom pública assinada conjuntamente com Miguel, defendes a legitimidade e necessidade da luita combativa e sem trégua da classe obreira contra o Capital.
Vamos ver. A burguesia nom fai uso de toda a sua força para nos combater? Sempre que umha luita se desmarca dos padrons impostos polos grandes sindicatos, bem pagos, e o patronato somos brutalmente reprimidos. Centenas de operárias e operários sabem de que estou a falar. Muitos deles ficárom com seqüelas para toda a sua vida. Da mesma forma a classe obreira está legitimada para se defender dos brutais ataques da burguesia e deve empregar todos os métodos ao seu alcance.
A prática tem mostrado avondo que toda aquela luita que se radicaliza consegue maiores resultados.


Na tua prática sindical com os setores mais conscientes e avançados do proletariado e a juventude sempre afirmaste a necessidade de superar as lmitaçons inerentes ao sindicalismo e adoptar um compromisso mais amplo e global.
Com certeza, se realmente queremos quebrar as cadeias da exploraçom e atingir a nossa ansiada libertaçom nacional, é necessário um referente que guie o conjunto do povo trabalhador a alcançar esses objetivos. Para mim, a tarefa principal neste momento é a de dar forma a umha alternativa política independentista e de esquerda, que ligue com as camadas populares do País de maneira que se converta num referente político claro, honesto, honrado, com os pés no chao; que seja um exemplo a seguir em todos os aspetos e, em definitivo, com capacidade real de aplicar no futuro da nossa naçom, a verdadeira democracia proletária.

O sindicato tem a tarefa de conseguir melhorias económicas e laborais para as trabalhadoras e trabalhadores, e despertar neles a consciência de classe. Mas o seu papel nom é o de dirigir o processo revolucionário, isso corresponde a outro tipo de organizaçom.


Como som as condiçons e a tua vida na prisom? Que diferenças constatas no sistema carcerário espanhol atual e as das anteriores etapas nas quais já estiveste preso?
Em essência, o sistema carcerário de hoje em dia vem sendo o mesmo que o de há vinte anos. Mas nisto a burguesia também aprendeu e tem polido algumhas cousas. Agora todas as prisons som por módulos. Isto que quer dizer? Pois que no interior de um macrocárcere há muitos pequenos cárceres, sem relaçom uns com os outros, onde o preso é submetido a um maior controlo e a umha maior pressom.
Por exemplo, o complexo carcerário da Lama tem 15 módulos e os presos som classificados por módulos segundo a sua docilidade. Há módulos para presos de primeiro grau e para isolamento ou de castigo.
Estas paredes estám impregnadas de sangue e de pánico. Som autênticos centros de tortura, os presos, só com ouvirem falar dos módulos 14 (de castigo) e 15 (primeiro grau), ficam arrepiados de horror.
Agora está todo automatizado e com muito mais medidas de segurança; circuito fechado de televisom, megafonia para falar e escuitar, sensores, etc.

No dia seguinte de eu entrar, já me notificárom que estava incluído no FIES (Ficheiro de Especial Seguimento). Isto quer dizer que tenho as comunicaçons orais e escritas intervindas e restringidas. Só podo escrever 4 cartas a semana, e tenho metade das chamadas telefónicas que tenhem outros presos. Com isto perseguem isolar-me do exterior, o que quer dizer que o que realmente lhes preocupa é a mensagem política e de resistência que podo transmitir. Além disto, ao estar incluído nesse ficheiro, nom podo realizar nengumha atividade cultural nem manual. Só me fica passar as horas deitado no pátio, entre as drogas e as brigas.


Estás a receber umha ampla solidariedade na prisom. A CUT e o Comité de Solidariedade a Apoio a Miguel e Telmo (CSAMT) estám a ocupar a rua, promovendo em Vigo concentraçons mensais. Que queres transmitir a toda a gente que te apoia e se implica na vossa libertaçom?
A solidariedade é um aspeto muito importante da luita. Nom é fácil ser solidário ou solidária, requer dumha aprendizagem como em outra faceta da luita. A sociedade, desde que nascemos, educa-nos em valores individualistas e egoístas. Por isso, o solidário ou solidária vai-se comprometendo neste labor na medida que se desprende da educaçom burguesa. Quando umha pessoa pratica a solidariedade, está a contribuir para que a luita avance, ao tempo que eles mesmos se tornam mais livres.

Nom é nada fácil que o pessoal se implique nas campanhas de solidariedade, mas por pouco que se aproxime, contribui-se mais do que se pensa. Quero esclarecer que estou a falar de solidariedade, nom de caridade, que é um conceito bem distinto, e muita gente confunde. A solidariedade implica compromisso e libertaçom de um mesmo.
Agora mesmo toca pelejar por sacar-nos da cadeia, e a única maneira é incrementar a luita por todas as partes, estender a solidariedade a cada recanto do país. Só com a luita e as mobilizaçons, com umha vasta e potente solidariedade vamos parar a vaga repressiva. Nom fica outra!

A toda a gente que nos apoia, quero transmitir que confio na sua generosidade, e enquanto nom chega o momento da libertaçom, a sua solidariedade é o nosso melhor alimento, dá-nos forças, calor e ánimos para afrontar esta dura prova. A todas, estou imensamente agradecido. Cada mostra de solidariedade levo-a guardada no fundo meu coraçom.


A crise do capitalismo em escala global está a provocar resistências e um incremento da luitas obreiras e populares. Na Galiza, acabamos de participar em duas greves gerais, mas este 1º de Maio a assistência às mobilizaçons foi mui baixa. Como sindicalista, que percepçom tés dos acontecimentos e que prognósticos farias?
Discrepo com a pergunta. A crise do capitalismo nom está a provocar a resistência que deveria. As medidas adoptadas polo governo imperialista espanhol som de umha intensidade mui profunda e nom obtivérom a resposta merecida, porque o movimento operário foi apanhado em cueiros.
Na nossa Galiza, nom há um referente político claro, nem com a força capaz de se situar à frente do movimento obreiro e popular. Isto por um lado; polo outro, o sindicalismo de clase e nacional ainda é muito fraco, e para que a CUT nom ocupe o papel que lhe corresponde, a repressom fai o seu trabalho. Foi assim como começárom o desenho de criminalizaçom da nossa central sindical, tendo como conseqüências as multas administrativas sobre os nossos filiados e filiadas, a vigiláncia permanente e como ponto e seguido as detençons.

Há mais motivos que nunca para luitar e sair à rua, porém, a assistência às mobilizaçons do 1º de Maio foi mais reduzida que nunca. Parece umha contradiçom, mas nom é tal. Os partidos domesticados e os sindicatos vendidos figérom do 1º de Maio um dia de festa, de caralhada, mas a gente nom está para caralhadas, está indignada, eliminando todo significado reivindicativo e de luita. Dá a impressom que aqui, da noite para a manhá, passou-se do capitalismo ao socialismo e já nom há nada que reivindicar nem nada por que luitar.
O 1º de Maio, enquanto existir o capitalismo parasitário, nom pode ser um dia de festa, os obreiros e obreiras indignadas pola miséria nom tenhem vontade de andar de “procissom”. Já tenhem as processons das festas paroquiais para luzir as melhores roupas.


Luita de classes, luita nacional ou combinaçom de ambos fatores com a incorporaçom da luita contra a opressom da mulher?
Esta pergunta está respondida nela mesma. A Galiza é um país sem Estado próprio, portanto, nom pode haver libertaçom social sem libertaçom nacional e vice-versa. Em conseqüência, luita nacional e luita de classes tenhem que ir unidas. Nom pode existir umha autêntica luita por um objetivo sem o outro.


O Comunismo continua a ser a única alternativa viável para a humanidade?
Podia responder com um rotundo sim. Quer queiramos, quer nom, caminhamos face o comunismo. O próprio processo histórico mostra-nos que as sociedades tenhem evoluído de sociedades inferiores a sociedades mais avançadas. O sistema capitalista está a chegar ao seu fim, já nom tem capacidade de manobra para sair desta profunda crise. Entom, depois do capitalismo que nos fica? Nom vamos voltar ao feudalismo ou ao esclavagismo... nom teria sentido voltarmos para trás. Só nos fica olharmos para diante e, depois do capitalismo, só pode vir o socialismo. Esta sociedade de tránsito para o comunismo é a encarregada de criar as condiçons para dar passagem à sociedade mais avançada da história: o comunismo. Onde o homem e a mulher, por fim, estarám em pé de igualdade, serám livres e universais.


Que mensagem queres enviar à juventude rebelde galega e à esquerda independentista e socialista galega?
Eu nom som quem para enviar mensagem algum à juventude rebelde galega e menos ainda à esquerda independentista e socialista galega. Só podo dizer à juventude e ao povo galego em geral que a pior das atitudes é a indeferença, dizer “nom podo fazer nada, já me irei apanhando”. Com organizaçom e luita, há futuro.

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